domingo, 26 de junho de 2016

Cesto de Ovos



Esta data ao pé da página
já não vale mais, passou,
ficou pra trás, foi ontem.
Os tempos são diversos.
Esse dia ruim começou
na tarde de ontem.

Vai se prolongando, se estica,
pela madrugada de amanhã
que é parte do meu hoje mau.
Como disse um louco de pedra:
Amanhã é o hoje
que ontem me preocupava.

É isto o que eu tenho,
ovos, um monte deles,
mas os vejo como se fossem
galinhas feitas, gordas e muitas
já transformadas em terras,
em uma grande fazenda, o mundo.

Estou aqui e não estou,
faltam pedaços neste quebra-cabeça.
Nada serve pra tudo
e não adiantam pra mim.
Sei que formam alguma coisa,
Frágil, cansativa e monótona.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

DESUMANA CRIAÇÃO


Desumana criação dos homens:
ruas negras de piso impermeável,
- sem a areia solta das estradas -
onde pessoas passam velozes,
apertadas, fechadas em latas pintadas
com cores berrantes.


Áridas construções dos homens:
arranha-céus de linhas desnaturais,
- sem as curvas e o caos das montanhas –
exibida imaginação de arquitetos
que o tempo desgasta e personaliza.
Desbota as cores.

Criatura que se arvora em criador
em plantações urbanas sem verdor.
- sem a exuberância da mata fechada -  
Cá e acolá uma árvore, um jardim
tornam o contraste mais doido.
Ocupação de cada espaço, o aperto.

O mundo virtual ou o concreto,
obras das gentes medrosas e mortais,
- sem a graça do cosmo natural –
cria neuroses e ânsias de fugir,
como um Ícaro
com asas de cera que se desmancham.

Apodere-se do tempo homem finito.
Dobre o espaço com as mãos de tua vontade
- sem pensar no que dirão de ti –
e volte ao mundo mutante do início.
Aqueles que se revolvem no nada
te olharão espantados.

sábado, 20 de junho de 2015

Desumana criação

Desumana criação dos homens:
ruas negras de piso impermeável,
- sem a areia solta das estradas -
onde pessoas passam velozes,
apertadas, fechadas em latas pintadas
com cores berrantes.

Áridas construções dos homens:
arranha-céus de linhas desnaturais,
- sem as curvas e o caos das montanhas –
exibida imaginação de arquitetos
que o tempo desgasta e personaliza.
Desbota as cores.

Criatura que se arvora em criador
em plantações urbanas sem verdor.
- sem a exuberância da mata fechada -  
Cá e acolá uma árvore, um jardim
tornam o contraste mais doido.
Ocupação de cada espaço, o aperto.


O mundo virtual ou o concreto,
obras das gentes medrosas e mortais,
- sem a graça do cosmo natural –
cria neuroses e ânsias de fugir.
Como um Ícaro
com asas de cera que se desmancham.

Apodere-se do tempo homem finito.
Dobre o espaço com as mãos de tua vontade
- sem pensar no que dirão de ti –
e volte ao mundo mutante do início.
Aqueles que se revolvem no nada
te olharão espantados. 


















quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O rio da minha vida

O movimento da água tonteia.
Prefiro a terra firme,
esta procura constante,
por um chão estável e seguro.
Chego a margem, um barranco,
e o coração bambeia. A vista
procura a árvore grossa,
nossa irmã, ali fincada firme,
para aguentar, evitar, a sensação
de ser levado embora, deixar de ser.
A água é nossa mãe, nela surgimos,
crescemos em mil formas,
variamos, mudamos e somos.
Mas seu ir e vir nunca parando,
amedronta, desequilibra
e lembra que nos movemos sempre.
Nós também nunca ficamos quietos.
O homem, o ser sapiens,
desde que andou sobre os pés
e liberou as mãos pra falar
saiu pelo mundo se fatigando,
um rio criando novos leitos
a cada tempestade e mudando.
Este movimento sem fim afligia
tornava a alma incerta e doida.
Olhando você que vai e vai
volta o medo daquele tempo
em que era um coletor e caçador,
atividade incerta, parenta da morte.

Firmo as pernas, te encaro,
e te vejo como és, detalhes.
Redemoinhos, ondas, correnteza.
Marulhos, remurejos e golfadas
em cores ocre, marrom e alanrajado,
mistura de tons terrosos
do barro que arrastas
e do qual também viemos, fomos feito.
Tanto procuraram os filósofos
pelo elemento fundamental:
seria fogo, ar, terra ou água?
Olha você, tens tudo em ti,
nenhum elemento te é superior.
Nada mais consigo ver.
O céu tão lindo de janeiro
é só um espelho teu, vago,
os morros, longe, são um borrão verde,
um contraste teu.
És um corpo d'água volumoso,
inchado, prenhe de esperança.
Teu tamanho amedronta.
É difícil ver a outra margem,
teu outro lado, nem melhor
nem pior, poderoso, que puxa,
arranca, derruba e mata.
Tua força, rio cheio, teu poder,
passa majestoso, não corre
pois não tem pressa. Dominas.

Boiam gigogas aflitas, trementes,
numa marcha triunfal.
Procuro um corpo, a carcaça,
do gado afogado, inchado,
do cão desprotegido, ou gato,
a cara enfiada na barrela,
mas não os vejo, escondes,
não queres a fama de assassino.
A custo devolves os mortos.
Quem é tirado de ti vira notícia.
É mal para quem procura simpatia
e tu, meu rio, na era do marquetim,
também pensa na imagem.
Não quer ser mais a lixeira
queres ser o remanso do pescador,
o recanto dos namorados,
a fonte de águas puras, de vida.
Mas não é o que se vê.
Nem paz nem mansidão
combinam com teu torvelinho.
Troncos e galhos mergulham,
somem, pulam e aparecem
num corcoveio de fogosos cavalos
a força contidos por teus braços.
Nenhum faraó na sua glória
conduziu tantos vencidos
e nem César em triunfo entrou
em Roma, a bela cidadela,
com tantos e variados prisioneiros.

Caudal imenso avanças sobre tudo.
Quem agarras está perdido.
Tu os conduzes céleres
sem dar tempo para o adeus
dos que foram deixados para trás.
Quem está a margem treme e reza,
suplica para ficar, restar.
Esquecem quem foi, quem levastes
mesmo que seja por um pouco,
o tempo de buscar forças
e fugir a tua presença devoradora.
Felizes os que te vêem chegar
durante a luz clara do dia.
A noite teu troar aumenta,
zuni aos ouvidos teu arrastar de tudo,
e sob o manto das trevas
redobra o pavor do homem
que puxa mulher e filhos
chapinhando nas águas que sobem
desmedidas e bendizendo ao Pai
que confuso amaldiçoa.
Ribeirinhos fogem aos tropeções,
largam tudo para trás.
O que pensavam ser suas vidas
abandonam para reter a vida.
Tropegamente correm de ti.
És o vingador divino,
moinho que esmaga e esmiuça.
Metes medo. Muito medo.

Desenrolas águas e mais águas.
Então, temente, diante de ti
o homem reflete e se penitencia.
Por tempos imemoriais
nos fixamos em tuas margens.
Cortamos tua vestimenta colorida.
Serramos árvores para levantar
nossas choupanas e taperas,
e escavamos troncos para canoas.
Deixamos nuas tuas costas.
Solta, a terra desbarrancava,
alargavas teu leito, crescias,
mas com o fundo mais raso,
diminuias, definhavas sempre.
Bebiamos tuas águas claras,
mas jogando nelas nossa merda,
um lixo cada vez mais porco,
sujamos o que bebiamos,
a morte passou a andar ao teu lado.
Fomos nós que te envelhecemos.
Tornamos tua corrente alegre
e saltitante em um esgoto feio,
de águas paradas e doentias,
onde as doenças se escondem
e de tocaia pegam nossas crianças.
Viemos de tuas águas, elas são
nossa mãe, mas tanto a maltratamos
que se tornou devoradora dos filhos.
Agora, com medo, te vejo passar.

Mas creio firmemente que podemos
fazer as pases contigo, rio velho.
Acredito que ainda em minha vida,
que escorre também há bem tempo,
verei as pessoas te respeitarem,
os filhos serão ensinados desde cedo
a não macular teu leito e a olhar
tua corrente com consideração.
Pescadores virão às tuas margens
tirar o peixe essencial para a panela
e os namorados deixarão os shopins
e se debruçarão nas pontes,
a luz prateada da lua ou sob as belas
cores do entardecer que tingem
tua superfície de um arcoires
e te vendo passar por baixo,
e faz isto desde o tempo de seus pais,
seus avós e tetravós, prometem,
de mãos dadas, de rostos colados
e com os corações bem juntos,
que seu amor continuará fluindo
de um peito arfante ao outro tenso,
que durará tanto tempo quanto tu.
Te vejo passar apressado, louco
e transbodante, e temo, mas sei
também que logo estarás manso
e deslisando sossegado e calmo.
Fique sempre conosco belo rio,
rio Paraíba do Sul.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Carta a minha Neta


Quero te dizer tanta coisa
mas na tua frente fico sem palavras.
Então, venho por meio desta
te pedir pra ouvir Paulo Ricardo
cantando Olhar 43,
ele diz o que eu queria te falar.

É uma música de menino,
mas poucas letras honram tanto as meninas.
Diz que elas são misteriosas,
“seu olhar é um lago negro e fundo”,
e suas curvas o faz “derrapar, sair da estrada,
morrer no mar”.
Ela pode ser Diana, filha de Zeus (deus),
caçadora, cachorra possessiva e, ao mesmo tempo,
ser Afrodite, outra filha de deus,
amorosa, atenciosa, atenta as vontades do menino.
Mas é também Briggite, a Bardot sensual,
e Stephanie de Mônaco, cheia de pose de princesa.
Ninguém pode definir qualquer menina.

Mas tenho mais coisas pra te dizer, por isto,
peço que você escute Paulo Ricardo de novo.
Aprenda o que já sabes em tua intuição:
existem dois tipos de meninos.
O que chega e quer te levar sem muito falar.
É extrovertido, mas no fundo é quieto,
e bruto porque tem medo do teu poder sobre ele.
O outro chega de mansinho, ou nem chega,

manda flores e versos e fala de sonhos
porque pensa que conhece tua alma e teu querer.
Se você não lhe der teu coração ele diz:
Que pena! Que desperdício!
E sai todo ressentido te dando um olhar 43.

“Mas só tem esses dois tipos de meninos, Vô?”
Não! Também tem o poeta bruto e o bruto poeta.
Mas cuidado, porque vai chegar um menino diferente.
Não é de nenhum tipo que você já conhece.
Ele é quem você quer, é quem pensas que és.
Mas, por favor, dê teu coração a um lutador
ou um trovador que tenha um bom coração.
Já passou o tempo em que podia sair na mão
Com qualquer joão.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Pássaro Livre


Não sou um pássaro preso.
Não admito ver a vida
pelas grades de uma gaiola.
Nada pode tirar a minha liberdade,
meu direito de ir e vir.
Sou um coleirinho solto
pelos caminhos do céu.
Às vezes vôo sozinho
De outras em um bando agitado.
Mas não andamos todos juntos,
nenhum está preso a um colega.
Andamos em dupla, em terno, ou quadra
conforme o temperamento de cada um
ou possibilidade de voar.
Depois de corrermos bastante
paramos para comer, beber e conversar.
Descem dois, quatro chegam em zig-zag,
logo o lugar se enche de alarido feliz.
Os olhos brilham ao ver um amigo,
os rostos se abrem em sorrisos.
Contam-se aventuras e planos.
Coisas tristes passam como um vento.
Satisfeitos e alimentados voltamos a voar.
Um mais afoito segue primeiro outros o acompanham
e em pouco a estrada está cheia deles.
Vivem para voar, o ar fresco tocando seus rostos.
Ora subimos batendo as asas vigorosamente,
o coração retumbando com o esforço,
depois embicamos numa descida vertiginosa,
o sangue ressoando nos ouvidos.
Brincamos de perseguir o outro, como crianças grandes.
Este exercício aguça nossos sentidos.
As cores e o detalhes ficam mais definidos.
Quando passamos por um bambuzal
as astes se dobram nos prestando homenagem
e as árvores abeiram a estrada para nos ver passar.
As folhas ficam tão nítidas!
O furta-cor da imbaúba, as folhinhas da sibipiruna

e as flores do ipê amarelo ficam tão vivas!
E os sons da Natureza?
O chiado persistente da cachoeira escondida na mata,
O canto riscadinho do sanhaço, os dois pios do anu
e o trinado do canário da terra no galho alto do angelim.
Os cheiros ficam tão profundos!
O perfume da jaca madura nos enche a boca d'água,
a fragrância resinosa do eucalipto e do pinus
penetra nos pulmões limpando a poluição neles.
Nos emocionam as curvas teimosas de um rio,
o gado pastando no alto dos morros verdejantes,
as primeiras luzes da manhã quando saímos de casa
e as cores do entardecer quando regressamos.
Não, não posso ficar prisioneiro em casa!
Tenho de pegar minha bike e ganhar a estrada.
Nenhuma televisão mostra as belezas que vejo,
nem o amor da esposa e dos filhos me consegue segurar,
Então saio e corro, subo e desço como um pássaro.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008


A Velha Árvore
Estás sozinha no pasto emoldurada
por uma colina coberta dum capinzal enfarruscado e coroada por um céu azul
tão intenso que dói a vista
e que se misura a teus galhos.
Copa que já foi frondosa com folhagem luxuriante onde bandos de anus, nas horas quentes do dia, descansavam empoleirados
e sombra fresca para o gado
nos dias de sol ardente do verão.
Na tua juventude dominavas soberana
este lado da estrada que passando por aqui continua mundo afora.

Um dia fostes pequeno arbusto
crescendo ao pé de uma grande sucupira
que era tua mãe e que te protegia do sol causticante,
da ventania desenfreada, da chuva de vento
e da inundação do rio.
A vegetação em tua volta te respeitava,
já prevendo a grande senhoria em que ias te formar.
Abelhas azafamadas e maribondos briguentos,
joaninhas dóceis e louva-a-deus devoradores,
voavam, caminhavam e pulavam
em tuas tenras folhas e finos ramos.
A vida corria fácil e ficaria assim para sempre.
Parecia.

Mas um dia apareceu o homem branco
montado num corcel fogoso
que pisava o mato rasteiro sem dó ou piedade.
A floresta se aquietou,
até os pássaros, companheiros teus,
emudeceram espectantes.
Quebrando a mataria avançaram, seguía-os
outro centauro de cor escura.
Jovem arbusto tu os observa desmontarem,
avançarem espatifando os galhos
e pararem a tua frente.
Ele estendeu a mão pra te ferir.
Apesar de ainda jovem já tens o mesmo aspecto que tens hoje,
dois braços abertos para um abraço,
e ele vem com a intenção
de podar um de teus braços.
De acabar com teu fraternal jeito de ser.
Mas lá do céu azul uma brisa correu entre as ramagens
e soprou o rosto barbado.
A mão que ia ferir-te sofreou e de sua boca saiu
um som como você nunca ouviu.
Não era como o rugir da onça,
o canto do bem-te-vi ou o coachar dos sapos.
Era um tremular agradável, mas as mãos
que se agitavam pareciam movidas por um vento mal.
Mesmo sem entender o que dizia sentistes
que um tormento se abateria sobre teu mundo
e encolhestes de pavor.

Quando os homens pretos chegaram
os ferros faziam tremer o chão.
Cortavam sem pena a trepadeira, os cipós, o pé de chapéu-de-couro
e os grandes angicos, cedros, angelins e sucupiras.
Tua mãe custou a cair como não querendo se apartar de ti.
Os ferros a atacavam por dois lados,
lascas cheias de seiva rubra saltavam de seu corpo forte
e caiam aos teus pés. Olhavas pasmada, nem respirávas.
E quando tua majestosa mãe caiu soltou um grito agudo
de dor e desespero de te deixar só.

Então, um homem negro, tão preto quanto o tronco do mogno
que reinava soberano nesta mata
e agora estava derreado no chão,
ajoelhou-se diante de ti e numa algaravia estranha
implorava perdão, não a você, mas à alguém poderoso
que estava representado em tua pequena figura.
Tratando-te com infinito respeito, limpou o terreno em tua volta,
fazendo um círculo protetor com a largura de duas vezes a tua altura,
fofou a terra em tua volta,
e fez um pequeno rego em torno de teu tronco.
Era para ele um altar e você, pequena e jovem árvore,
era o ídolo daquele homem.
Outros vieram e te homenagearam,
cada qual apartava os corpos despedaçados
da vegetação para mais longe de ti.
E então cantando e batendo palmas tocaram fogo em tudo.
O mato ainda vivo chiava de dor,
labaredas devoravam o verde e vomitavam cinzas e fumaça negra.

A noite chegou.
O amarelo das chamas alumiava o descampado e tu,
sozinha, como uma planta sagrada, protegida e preservada,
assistias o fim de tua antiga vida.
O calor amoleceu teu corpo e curvou o teu orgulho,
não eras melhor do que as outras plantas,
só que fostes escolhida para ficar e sofrer.
Na escuridão o amarelho acabou e o chão
ficou pontilhado de estrelas vermelhas, brazas e tições.
Então, depois de uma longa escuridão e silêncio
o sol voltou a brilhar. Houve um momento,
no meio do breu da noite, que acreditas-te que o sol não viria mais,
veio e com seus raios vibrantes ordenou-te:
Levanta, pequena árvore, e viva!
E ali começou o teu reinado sobre ninguém e coisa alguma.

Faz parte do teu caráter, você já nasceu com este talento,
ou defeito, estava em ti ainda semente, a soberba,
sentia-te dona de tudo. Então Aquele que tudo sabe,
que te conhecia antes de desabrocha em tua mãe o botão,
a flor, que se tornou você,
decidiu que tinhas muito a aprender conhecendo sofrimentos e perdas e,
se ainda ssim, não dobrasses a tua vaidade
então serias rainha de um reino átoa.
Quando menina, com tua mãe te fazendo sombra,
já te sentias mais importante que grandes gigantes
e, durante tua perda, vendo tua mãe morta,
as árvores anciãs derrubadas e os arbustos esmagados
ainda assim te sentiste especial, melhor que todas.
Por isto ficou decretado que governarias capim.

Assisti a tudo isto e ainda posso recordar cada fato
como se fosse ainda agora, também
sou mais velho que você, querida árvore.
Já vi coisas que nem te conto.
Vi este chão quando ainda nem havia plantas
e eu mesmo era parte de uma grande massa ígnea
e foi preciso passar muito tempo, levar muito sol e chuva na cabeça,
vento e rios encachoeirados para ser moldado
nesta forma redonda (não pareço o crâneo daquele negro,
o que foi morto bem debaixo de ti e que os urubus,
as formigas e os vermes deixaram assim,
como eu, como uma pedra?)
Mas de nada me queixo e tu não deves também.
São destinos traçados para todos nós por Um Maior.
Olha, lá vem o vento descendo a colina.
É um moleque safado, sempre foi.
Mexe com tudo só não consegue bolir com a gente, não?
Hi-hi-hi-hi-hi-hi-hi. Ô vida!